El Rei D. João I concedeu, em 1392, a Carta da Feira àquela que era, na época, a Feira Franca de Viseu, mais tarde rebatizada para Feira de S. Mateus, que conta já com mais de seiscentas edições. Esta feira anual de cariz popular, cultural, económico e gastronómico, uma das maiores e mais antigas em Portugal, recebe cerca de um milhão de pessoas durante os meses de agosto e setembro, sendo visitada por muitos emigrantes portugueses.

No início do séc. XX, o executivo municipal deu uma nova vida à feira, ampliando a área e diversificando a oferta, numa clara aposta na conquista de novos públicos, criando novas tradições: a iluminação artística, a Marcha das Aldeias, os bailes do Salão de Chá dos Bombeiros, o caldo verde e as enguias. As enguias são hoje, precisamente, um símbolo da Feira de S. Mateus, fazendo parte da história deste evento desde antes da fundação da Comur, em 1942. Pela necessidade de escoar o excedente de enguias que eram capturadas pelos pescadores na Ria de Aveiro, as mulheres da Murtosa fritavam-nas, conservavam-nas em molho de escabeche e vendiam-nas para as feiras. O facto de no interior o acesso ao peixe ser muito reduzido fez com que esta iguaria fosse ainda mais apreciada pelos visitantes da feira, que sabiam que ali as poderiam encontrar. Na década de 40, sendo a Feira de S. Mateus a mais importante da região, era, por isso mesmo, um destino óbvio para as enguias da Murtosa. A Comur surgiu precisamente com a intenção de organizar esta atividade de venda das enguias. E ao longo de oito décadas foi conquistando o seu espaço sendo hoje uma das principais atrações deste evento anual que, por sua vez, é um marco incontornável da nossa história.

Esta carrinha Bedford de 1978 fabricada pela Vauxhall Motors, então uma subsidiária da General Motors criada para construir veículos comerciais, foi recentemente restaurada com as cores da Comur e é uma homenagem ao passado. As enguias da Comur continuam a ser consideradas uma das iguarias mais especiais que Portugal tem para revelar ao mundo e é na Feira de S. Mateus que sobem ao palco para oferecer um espetáculo gastronómico pleno de alma conserveira e memórias partilhadas por portugueses que ali chegam de todo o mundo.