objetos com história
- arquitetura e decoração -
Cunhos de Pão
Museu do Pão, Seia
Os descobrimentos portugueses que começaram com a conquista de Ceuta em África em 1415 e que se estenderam ao séc. XVI, permitiram que Portugal explorasse os oceanos para descobrir novos mundos, determinando a construção de um império. Na segunda metade do séc. XVI, porém, Portugal debatia-se com a dificuldade de manter os seus domínios além-mar, com os cerca de 40 mil portugueses ultramarinos que para ali tinha deslocado. No território nacional, a inexistência de uma burguesia ativa e de uma classe média consolidada adensava as dificuldades de uma governação que continuava ligada a uma estrutura de raiz medieval que trilhava um caminho perigoso, favorecendo a nobreza e o clero em detrimento do povo.
O Pão era, já nessa época, revelador dessas diferenças. Os cunhos, também conhecidos por pintadeiras, chaveiros ou carimbos serviam para marcar a massa antes de a levar ao forno e como símbolo de expressão popular, assumiam o papel de afirmação de famílias mais abastadas. O povo fazia as marcas na base com cunhos simples e os nobres na parte de cima do pão, com cunhos elaborados.
A coleção de cunhos de pão dos sécs. XVI e XVII em exposição na sala da arte do Museu do Pão são peças extremamente raras e ricamente trabalhadas, que terão pertencido a famílias nobres, sendo utilizados nas cozinhas dos castelos para marcar o pão e destacar o status da família em jantares sociais. O sinete duplo, mais antigo e sem sinal de ligação nos elos que unem as duas peças, resulta de um pedaço único de madeira sendo uma das bases decorada com um florão de pétalas alongadas, intercaladas por flores de pétalas circulares e cercadura de dois filetes simples; a outra evidencia duas figuras humanas nos lados. Os dois exemplares maiores, redondos, colocam em destaque os brasões de família. A pretensão de vincar o estatuto fazia-se, irónica e ostensivamente, através do mais universal, transversal e democrático dos bens: o pão.