objetos com história
- arquitetura e decoração -
Escafandro
Casa Oriental, Porto
Em 1775, o matemático francês Jean-Baptiste de La Chapelle (1710-1792) inventou um equipamento de mergulho em cortiça a que chamou “scaphandre”, juntando as palavras gregas “skáphos” (barco) e “andrós” (homem). Constituído por capacete, fato lastrado e botas, estava ligado à superfície por meio de um tubo para poder respirar debaixo de água, mas que em simultâneo o deixava com mobilidade suficiente para explorar o fundo marinho e executar tarefas nas profundezas. La Chapelle é o pai do escafandro não autónomo, com uma forma aproximada à que ainda hoje tem.
A julgar pelo que deixou escrito, em 1590, o pirata inglês Anthony Knivet – capturado pelos portugueses no Brasil por incitar os índios a revoltarem-se contra os colonos – teria usado um equipamento semelhante ao escafandro de La Chapelle, quase dois séculos antes. Quando prisioneiro, segundo o seu relato, teria sido forçado a mergulhar com um fato rudimentar de couro, engraxado para garantir a impermeabilização, e equipado com um grande capacete que dispunha de três balões de ar para respirar debaixo de água enquanto resgatava canhões afundados.
Junto à Torre dos Clérigos, a Casa Oriental manteve a sua fachada fiel à sua origem, revelando como à época em que foi fundada, em 1910, o colonialismo era uma realidade. A passagem da Monarquia para a República ocorrida naquele ano foi uma das muitas mudanças do séc. XX, que trouxe também a perceção de que todos os povos têm a mesma dignidade e, como tal, o colonialismo não era compatível com a civilização remetendo-se, felizmente, a um fenómeno do passado. A Casa Oriental, que nasceu como mercearia especializada na venda de produtos das colónias africanas e do oriente português, é hoje uma loja Comur, mantendo a fachada restaurada a preceito, num prédio cheio de história. No interior, destaca-se um escafandro de bronze dos anos 40, pouco anterior à invenção do escafandro autónomo de Jacques Cousteau e que é, neste contexto, uma metáfora do lado menos poético da História de Portugal, cujo passado é sempre bom lembrar para que os mesmos erros não se cometam e a memória não se apague.