objetos com história
- arquitetura e decoração -

Pedras litográficas da indústria conserveira
Sede do Grupo O Valor do Tempo
Nascido em Praga em 1771 no seio de uma família pobre, Aloísio Senefelder rapidamente se viu obrigado a procurar um emprego que garantisse o sustento dos irmãos após a morte do pai. Aos vinte anos escreveu uma peça de teatro que um editor se predispôs comprar, pedindo-lhe que lha trouxesse impressa num prazo muito curto. Perante essa urgência, Senefelder tentou criar um processo de impressão mais simples e menos dispendioso do que a tipografia; colocou caracteres tipográficos sobre uma matéria mole e pastosa, usando lacre para tirar um positivo dessa matriz, mas essa solução revelou ser demasiado frágil e quebrava-se muito facilmente. Optou então por usar como matrizes pedras de Kehlheim, brancas, sem rugosidades, planas e extremamente calcárias, sobre as quais usou um verniz à base de cera, sabão e aguarrás e deu à pedra um banho de água-forte. A tinta de impressão aplicada na pedra acabaria por definir os princípios fundamentais da litografia e viria a revolucionar a história das artes e da indústria gráfica.
Foi Luiz Mouzinho de Albuquerque, que estudara por curiosidade o processo em França, quem introduziu esta técnica em Portugal, fazendo das pedras litográficas a matriz de dezenas de marcas de conservas de peixe. A pedra era limpa e sobre ela era feito o desenho com tinta litográfica, ao qual se aplicava um composto que queimava a base onde se delineara o modelo a litografar, dando-lhe relevo. O desenho era passado para uma chapa metálica que era enrolada no primeiro cilindro da máquina de impressão, passando a imagem inversa para o segundo cilindro revestido de cautchú (borracha), que por sua vez o transmitia para a folha de flandres enrolada no terceiro cilindro, agora com o desenho novamente direito. Uma vez impressas, as folhas eram cortadas e soldadas para serem utilizadas nas fábricas de conservas.
Depois de terem sido intensamente usadas, com inscrições em vários idiomas para a exportação das conservas portuguesas para todo o mundo, as poucas pedras litográficas que o tempo não apagou e de que este conjunto de 10 fazem parte, revelam um rasgo de marketing e um design invulgares para a sua época. O recurso às figuras femininas e mitológicas, aliadas a um forte apelo da cor nas latas litografadas estimulavam o apetite para as conservas e elevavam-lhes o estatuto, gravando para a posteridade o passado feliz da indústria conserveira.