objetos com história
- arquitetura e decoração -
Sino de bordo
Comur, Rua da Prata
O movimento aparente do sol foi a primeira medida do tempo, quando o Homem espetou uma estaca no solo e observou como a sua sombra rodava e variava de comprimento ao longo do dia. Fazendo marcas no chão era possível dividir o período diurno em frações convenientes. Se houvesse sol, claro… Desde então, muitos instrumentos foram inventados, apurados e refinados porque o mundo contemporâneo é implacável e não tem tempo a perder. Mas a fragmentação do tempo não se faz em todo o lado de forma igual; no mar ganha contornos diferentes.
Há séculos que os marinheiros se ajustaram às necessidades impostas pelo mar, cumprindo uma jornada de trabalho que assegura a atividade a bordo. O zelo pelo navio é feito dividindo-se as 24 horas do dia em “quartos” de quatro horas, findos os quais o pessoal de serviço é rendido por nova parcela da tripulação, devidamente repousada para poder assegurar em boas condições a condução e segurança do navio durante o novo “quarto”. É aqui que a tradição naval do sino de bordo tinha um papel primordial: informava o tempo decorrido desde o início de cada quarto, tocando “dobradas” (dois toques sucessivos) e “singelas” (um simples toque) a cada meia hora. Assim, ao fim de três horas e meia de “quarto”, ouviam-se três “dobradas” seguidas de uma “singela”. Meia hora depois eram tocadas quatro “dobradas” e o novo grupo de serviço entrava na ponte para render os seus camaradas. Acessoriamente, o sino podia tocar em caso de incêndio para que todos viessem ajudar no combate às chamas, e em caso de nevoeiro para alertar outros navios que estivessem nas proximidades.
Acionando com vigor a cordoalha que faz bater o badalo, é fácil imaginar que este sino de bordo em bronze do séc. XX tenha sido amplamente usado com a precisão de um relógio, fazendo justiça à reconhecida disciplina náutica. A bordo, a comunicação reveste-se de extrema importância para o bom funcionamento da embarcação para a qual o toque manual do sino, aqui memorado, continua a ser um regulador do tempo ao som das badaladas.