objetos com história
- arquitetura e decoração -

Sirenes de Navio

Comur, Faro

Emitidos através de dispositivos que utilizam o som para alertar sobre os perigos à navegação, como a proximidade de costas rochosas, baixios e promontórios, ou para assinalar a presença de outras embarcações, os sinais de nevoeiro audíveis têm sido usados ao longo de centenas de anos como forma de evitar os naufrágios por abalroamento ou encalhe, quando as ajudas visuais à navegação, como os faróis, são ineficazes devido ao nevoeiro ou neblina. Inicialmente o alerta era feito através de sinos e gongos, mais tarde com canhões disparados a partir de faróis, mas a imprevisível duração dos períodos de nevoeiro exigia equipamentos mais ágeis.

A primeira sirene de nevoeiro automatizada a vapor foi inventada pelo escocês Robert Foulis (1796-1866), depois de ter ouvido a sua filha a tocar piano numa noite de névoa intensa, tendo notado que, nessas condições atmosféricas e à distância, as notas baixas eram mais audíveis do que as notas altas. Essa perceção fê-lo projetar um dispositivo para produzir um som de baixa frequência, criando paralelamente um código de comunicação de apitos curtos e longos, cada um com um significado, que apresentou à Comissão da Baía de Fundy para instalação na Ilha Partridge, no Canadá, para onde emigrara.
As sirenes cuja presença se impõe na Comur, em Faro, foram fabricadas no início do séc. XX e pertenceram a um dos paquetes da Companhia Colonial de Navegação (CCN), entretanto desmantelado. Muitos insistem em apelidá-las de “sereias”; pura poesia náutica ou talvez porque na língua inglesa “sirene” e “sereia” são escritas e pronunciadas da mesma maneira. São o charme dos navios numa elaborada sinfonia de apitos sucessivos que podemos apreciar nas festividades e desfiles náuticos, alguns de tradição religiosa e popular, mas que também ouvimos – num tom menos alegre, quando as embarcações partem para o mar, despedindo-se num “até breve” melancólico, grave e arrastado, romanceado pelo eterno canto da sereia.