objetos com história
- arquitetura e decoração -

Telescópio

Comur, Rua da Prata

O holandês Hans Lippershey (1572-1619), fabricante de lentes, construiu em 1608 um instrumento de ótica para a observação de objetos à distância, passando a luz através de duas lentes: nascia assim o telescópio. Por essa altura, Espanha e Holanda estavam de costas voltadas, em plena Guerra dos 80 anos (1568 a 1648), durante a qual as Províncias Unidas dos Países Baixos se tornaram independentes de Espanha. Guilherme I, Príncipe de Orange, o grande impulsionador do movimento da independência, considerou o telescópio uma invenção muito interessante por permitir observar a movimentação do inimigo, permitindo-lhe definir uma estratégia mais eficaz para vencer os famosos e compactos terços espanhóis.

Apesar de ter sido fabricado para fins militares, o grande alcance do telescópio rapidamente despertou a curiosidade do astrónomo italiano Galileu Galilei, que, em 1609, apresentou várias versões melhoradas do instrumento com a finalidade de observar o céu noturno e diurno. Com o seu aperfeiçoado instrumento ótico, Galileu descobriu fenómenos celestes como as manchas solares, as crateras e o relevo lunar, as fases de Vénus, os principais satélites de Júpiter e a natureza da Via Láctea, dando início a uma nova era da observação astronómica na qual o telescópio passaria a ser protagonista, para grande satisfação dos astrónomos que até então apenas dispunham do astrolábio, do quadrante e da esfera armilar para cartografar o céu.

Este telescópio de origem inglesa, fabricado no séc. XIX em madeira, latão e vidro, é constituído por tubos que encaixam e deslizam entre si para fazer a focagem. As suas potentes lentes permitem estender em muito a capacidade dos olhos humanos de observar e mensurar objetos longínquos. Terá sido usado a bordo de um navio, como tantos dos objetos que vivem nas nossas lojas, assinalando a real importância do mar na nossa economia e a capacidade metafórica da Comur em ver mais longe, extravasando os limites padronizados no que ao valor acrescentado das conservas portuguesas diz respeito.