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Senhas de racionamento de Pão
Museu do Pão, Seia
Em abril de 1943 a Segunda Guerra Mundial estava ainda longe de terminar e Portugal, que vivia sob um regime ditatorial, sentia os efeitos de uma Europa já devastada pela guerra. O agravamento da situação dos abastecimentos era de tal forma sério que obrigou o governo a instituir o racionamento de produtos essenciais numa “política do consumo por via da autoridade”, como disse o então ministro das Finanças, João da Costa Leite, numa ação que não se limitava às classes sociais mais pobres.
Com os bens a escassear, o Diário de Notícias anunciava na edição de 1 de abril de 1943 que “vão muito adiantados os trabalhos da organização do racionamento, estando já prontas 3000 caixas para recolha dos boletins de família. (…) Esse reconhecimento das pessoas está a ser feito pelas mercearias e em alguns postos de venda de peixe da cidade que estão a fazer o recenseamento dos seus fregueses a fim de estabelecerem uma norma de distribuição que ponha fim às burlas”, numa alusão ao facto de haver especulação de preços, cujos autores eram perseguidos pela polícia e enviados a tribunal. As filas para as senhas de racionamento passaram a ser palco de focos de socialização e de insatisfação social, motivando manifestações de revolta política.
Na sala do Pão político, social e religioso do Museu do Pão estão em exposição 6 senhas de racionamento de pão da década de 40, que especificavam o tipo de pão: “A” correspondia ao pão de trigo e “B” ao pão de outros cereais, sendo que as vermelhas se destinavam às crianças e as restantes aos adultos. Estas senhas, com o número 7280, pertenciam à família do Senhor Doutor António José Braz Fernandes Reis, de Lisboa, e tinham, a lápis, a inscrição do nome de quem as haveria de usufruir: Lourdes, Mercês, António, Maria da Piedade, Rosário e Mercesinha, membros do agregado familiar. Das 6 senhas, apenas uma terá sido utilizada. Teria António Reis sido um colecionador de senhas de racionamento, prescindindo do pão pela força do colecionismo, capaz de tornar este objeto num bem de primeira necessidade?…