objetos com história
- escultura e mobiliário -

Cadeiral e Altar

Museu da Cerveja, Lisboa

A fileira de assentos localizados no coro de uma igreja, catedral, mosteiro ou convento tem este nome já de si majestoso: “Cadeiral”, que sugere uma altivez que a peça normalmente confirma, espelhando o cariz extraordinário e contraditório da realidade religiosa com a social, onde confluem o sagrado e o profano, o erudito e o popular.

Com origem na Idade Média, o cadeiral destinava-se ao clero das catedrais e igrejas monásticas e era, por norma, ostensivamente ornamentado e disposto em forma de “U”.
Os assentos, articulados, eram levantados nos períodos em que os clérigos tinham que estar de pé, mas ofereciam um ponto de apoio dissimulado – a misericórdia, que lhes permitiam estar quase sentados e descansar, parecendo estar em pé.

Esculpido em madeira de carvalho em finais do séc. XVII, bem como o altar do mesmo período que o complementa, o cadeiral do Museu da Cerveja é um exemplo de talha portuguesa que preserva também as ferragens originais. Quando decidimos incorporar a peça no restaurante, que antes tinha pertencido a uma igreja de propriedade privada, optámos pelos tons pastel engrandecidos pelo dourado, sinal da opulência do clero da época, numa homenagem ao barroco que, a par do azulejo nos sécs. XVII e XVIII, era o estilo predominante no interior das igrejas portuguesas em altares, cadeirais e retábulos. Agora instalado num espaço inusitado como um restaurante, este cadeiral evoca um tempo marcado por opíparos banquetes reservados à nobreza e ao clero. No Museu da Cerveja, sem opulência nem discriminação de classes sociais, as refeições servidas no cadeiral do séc. XVII são verdadeiros banquetes para os comensais e põem em destaque a bíblia da gastronomia portuguesa, sob o pecado capital da gula.