objetos com história
- escultura e mobiliário -
Mesa rústica
Comur, Aveiro
Quando o homem deixou de ser nómada e passou a viver em locais fixos, adquiriu hábitos e aprendeu a plantar e a colher os seus próprios alimentos, passando a usar objetos e recursos naturais que lhe facilitassem as tarefas do quotidiano e melhorassem o seu modo de vida. A mesa, do latim mensa, passou nessa altura a fazer parte da História da humanidade, transversalmente a todas as culturas e povos, como um objeto essencial. A introdução das chaminés na Europa, no séc. XIII, permitiu que a preparação dos alimentos fosse feita no interior das casas, criando as condições para a reunião das pessoas em torno da mesa, tornando-a um ponto central da casa.
A beleza desta mesa dos anos 1920 em madeira de pinho reside na imperfeição. De aparência tosca e sem aperfeiçoamentos gerados pela mão do homem, algo que apenas a camada de tinta subverte, é justamente a sua autenticidade que a valoriza e define. Quase como se de um produto da natureza se tratasse, os detalhes naturais e grosseiros que o material evidencia fazem desta mesa uma peça única com um charme que só a idade e o desgaste natural lhe conferem. O uso deixou-lhe marcas que testemunham que foi usada, usufruída, apreciada e vivida por pessoas ao longo de décadas. As marcas que apresenta são as cicatrizes do tempo, verdadeiras condecorações que a enobrecem.
Saber apreciar a beleza num mundo naturalmente imperfeito é uma arte. Nem tudo tem que ter dourados e volutas para ser belo e monumental. A preservação do que é natural e o trabalho artesanal das nossas conservas revelam que a arte está no simbolismo das rugas, no conhecimento de décadas, na cor sépia das memórias, na passagem do tempo e nas mãos experientes que as trabalham de cor, com brio e precisão, fazendo-as perfeitamente imperfeitas.