Bem no coração da cidade de Ponta Delgada, a antiga retrosaria Matriz (pelos micaelenses conhecida como “Silva Pipi”), foi fundada em 1920 por J. J. Medeiros Silva, no largo da igreja que lhe sugeriu o nome, junto às portas da cidade. Ali exibiu, ao longo de 95 anos e em preciosos armários com portas de vidro, um manancial de lãs, linhos e tafetás, fitas, dedais, cordões de seda, elásticos e fechos, galões, franjas e pompons, rendas, agulhas, missangas e pedraria, botões, linhas, caixinhas de costura, tesouras de arremate, de bordado e de picotar e um sem número de objetos de que só os retroseiros conhecem o glossário.

No frenesim do atendimento às freguesas, um exército de senhoras abria e fechava caixinhas de tudo e mais alguma coisa, ao toque dos saltos dos sapatos que trauteavam pela loja, um som que se misturava com um outro, pouco expectável para uma retrosaria. As lavadeiras das Sete Cidades vinham vender galinhas, pintos e ovos a Ponta Delgada e era frequente deixarem-nos na retrosaria Matriz por uma questão de conveniência com os seus afazeres na cidade. Por ouvir o piar dos pintos, os clientes começaram a chamá-la “Silva dos Pipis”, nome que foi depois abreviado para “Silva Pipi” por associação e brincadeira com Gilberto Silva, o proprietário.

A retrosaria “Silva Pipi” fechou portas a 31 de dezembro 2015 para voltar a reabri-las ao mundo a 30 de março de 2019, com um conceito Comur. Hoje, é o colorido das latas de conservas nos armários centenários, que mantivemos na íntegra adaptando-os à venda de conservas em vez de botões e linhas, que traz à memória a gradação de cores dos tecidos que ali se vendiam. Quem entrar pode sempre pedir ao balcão meio metro de saudade em veludo, três carrinhos de linhas cor de nostalgia e dois galões dourados em conserva para engalanar, de forma garbosa, a história da casa.