objetos com história
- pintura -

À mesa, de Manolo Ruiz Pipó

Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Rua Augusta, Lisboa

Natural de Granada, Espanha, Manolo Ruiz Pipó (1929-1998) desde cedo revelou interesse e aptidão para desenhar. A família, abastada, enviou-o para as melhores escolas, mas Pipo era frequentemente expulso das aulas porque negligenciava os trabalhos escolares, passando grande parte do tempo a desenhar caricaturas dos colegas e professores – uma manifestação precoce da genialidade que haveria de revelar mais tarde e levá-lo a ocupar hoje um lugar de destaque entre os mais conceituados artistas espanhóis contemporâneos.

Em 1942, com o apoio e incentivo do avô Ruiz Pipó, iniciou a sua formação em desenho na escola de Artes e Ofícios La Llotja, em Barcelona, ​​a mesma onde Picasso estudara, e acabou por receber uma bolsa para estudar em San Jordi, o Centro de Belas Artes de Barcelona. Findos os estudos artísticos, trabalhou numa metalúrgica e numa fábrica de lâmpadas elétricas, ​​cujas operações de corte, soldadura e trabalho com metal lhe deram competências para aprimorar a técnica da escultura – mesmo que na altura ainda não o adivinhasse. Aos 17 anos fez a sua primeira exposição em Barcelona e aos 24 expôs na Galeria Macarron em Madrid. No ano seguinte, voltou a expor em Barcelona na Galería Argosa, mas então ao lado dos grandes: Picasso, Juan Gris, Joan Miró, Salvador Dalí e Emilio Grau Sala!

Em meados dos anos 50 encontramo-lo em Paris, o centro vivo das artes, levado pela sua inquietude e ambições artísticas. É aqui que se torna mestre em gravura, antes de partir para Itália, onde se deixa fascinar pelo contraste entre o claro e o escuro, técnicas que usa sobejamente para expressar de forma sublime a tristeza e a solidão. A influência de Picasso, de quem se tornou amigo, parece ter sido inevitável; ambos tinham a mulher como musa, retratando-a ora como uma deusa exuberante e curvilínea, ora como uma figura maternal e melancólica. Esta gravura de Ruiz Pipó na Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau revela-o bem, no seu traço inconfundível; o de um criador que condensa as influências artísticas que recebeu e ao mesmo tempo deixa transparecer a cultura temperamental do seu país, que afinal não é assim tão diferente do fado que temos por cá.