objetos com história
- pintura -

Casario, Alberto Cardoso

Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Rua Augusta, Lisboa

O movimento modernista português foi uma verdadeira constelação no início do séc. XIX. Das muitas estrelas em ascenção, Alberto Cardoso (1881-1942) destacou-se pelo seu talento para a pintura. Foi contemporâneo de Mário Eloy e de Amadeu de Souza Cardoso, os seus principais amigos enquanto esteve em Paris, e em Lisboa não fugiu ao ponto de encontro vibrante do bairro do Chiado, onde os artistas se reuniam: A Brasileira, confirmando a teoria de Almeida Garrett de que “o café é a chave para se perceber a identidade de um país”.

Frequentador assíduo do café, foi nas mesas d’A Brasileira que o seu amigo e companheiro de tertúlias, Mário Eloy, o desenhou, eternizando-o. Foi também com ele que, em 1924, expôs pela primeira vez no Salão de Ilustração Portuguesa do jornal O Século, cuja publicação descrevia a sua obra de forma brilhante e que nos permite entender o Casario, exposto na Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, na Rua Augusta em Lisboa.

Brutalmente, sem piedade p’los nossos olhos, indiferente a quem não saiba ver, Alberto Cardoso fez escultura na pintura. Sim! Por mais paradoxal que esta afirmação lhes pareça, deve estar certa. D’aí o cubismo de alguns dos seus quadros, acentuadíssimo na exposição do ano passado. Paixão egualmente definida pelas grandes massas, vê a Natureza em planos. (…) Sacerdote da côr, fervente, apaixonado, onde haja colorido intenso lá o encontrarão, paleta pronta a fixar o seu encantamento. Portões de quinta ou jardins encantados, casaria pobre ou palácios… Por isso a sua técnica d’aparência rebuscada, irritantemente pretensiosa, mas que não é mais do que a dôr creadôra que desperta o espírito crítico mal vê importância ou quebra de harmonia quando pretende fixar o que os seus olhos deslumbrados viram. E o que vale a luz que nos dá o seu colorido, gritam-o bem os seus interiores, essa casaria d’Alfama viscosa, escorrendo negrume e tédio; vemo-lo bem no “Fado Corrido”. O ambiente tem ou não aquela angústia que pesa sempre e cada vez mais.