objetos com história
- pintura -

Mulheres, Paulo Ferreira

Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Rua Augusta, Lisboa

Sabia, como poucos, do seu ofício. Artista íntegro, Paulo Ferreira (1911-1999) ambicionava “aportuguesar o modernismo” e não o inverso. Columbano Bordalo Pinheiro, apercebendo-se do talento da criança, organizou-lhe a sua primeira exposição quando contava apenas 5 anos; uma ironia que o destino haveria de vincar, já que Columbano não se revia na estética modernista e Paulo Ferreira haveria de se transformar num dos grandes protagonistas do movimento, fruto da sua mente livre e dos muitos anos passados em Paris.

Paolo – nome pelo qual era igualmente conhecido, foi um artista multifacetado cuja carreira artística se afirmou no contexto do Estado Novo, ligando-se ao SNI – Secretariado Nacional de Informação, dirigido até 1950 por António Ferro, com quem partilhava o propósito de renovar a arte em Portugal, convertendo-a num novo estilo que fosse simultaneamente moderno e tradicional. Foi ilustrador do Diário de Lisboa, do Diário de Notícias, da Illustração Portugueza e d’O Sempre Fixe, bem como cenógrafo e figurinista na Companhia Portuguesa de Bailado Verde Gaio. Foi ainda decorador, publicitário, ceramista, argumentista e investigador de arte. Organizou e participou em várias exposições de arte moderna em Genebra, Paris, Nova Iorque e São Francisco, como um dedicado defensor da imagem de Portugal além-fronteiras, tendo comissariado em 1958 a primeira retrospetiva moderna de Amadeo de Souza-Cardoso, de quem era profundo admirador.

O convívio com os seus pares fê-lo aproximar-se do surrealismo nos anos trinta, e do abstracionismo nos anos quarenta. Versatilidade é, possivelmente, a palavra que melhor define o seu legado e o seu caráter artístico, convicto da sua vontade genuína de servir e divulgar a arte portuguesa. Jorge de Sena haveria de se referir a Paulo Ferreira como um homem de um “(…) certo dandismo aristocraticamente elegante e refinado, certo gosto de ser profissional parecendo amador, e amador, sendo profissional.”