objetos com história
- pintura -

Ovelha, Graça Morais

Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, Vila Nova de Gaia

Por entre vales, riachos, montanhas e planaltos a perder de vista, a Serra da Estrela guarda um segredo milenar. O maciço montanhoso que domina a paisagem, com primaveris tapetes de flores alternados com invernosos mantos de neve, encerra em si os vales de origem glaciar e as principais nascentes hidrográficas de Portugal. Este é, desde há milhares de anos – muito antes da formação de Portugal enquanto nação, o cenário perfeito para a criação de um dos mais prodigiosos ícones gastronómicos do país: o Queijo Serra da Estrela DOP.

É hoje amplamente reconhecido como um dos mais extraordinários queijos do mundo, mas tem já uma longa história. É, aliás, o mais antigo de todos os queijos portugueses, com várias menções na obra do Mestre Gil Vicente, como a Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela, uma peça de teatro apresentada no Verão de 1527 à corte do Rei D. João III. Em 1287, o Rei Dom Dinis criou a primeira queijaria na Serra da Estrela, pelo reconhecimento dos recursos naturais e das propriedades únicas das condições da região. O queijo representava, já nessa altura, uma saborosa e nutritiva fonte alimentar, ao mesmo tempo que garantia uma excelente durabilidade, motivo pelo qual era presença assídua nas viagens dos pastores e dos grandes exploradores de então.

O que torna este queijo tão especial, afinal? A origem do leite e a alma. O leite provém das ovelhas Bordaleiras, a primeira raça ovina autóctone a ter livro genealógico, criada nas serranias da Estrela e considerada a raça de melhor aptidão leiteira. É através da valorização da lã, do queijo e da carne dos nossos projetos, que criamos uma fórmula 100% sustentável, social e economicamente viável e consequente. Esta obra de Graça Morais presta, sem previamente o saber – o que sublinha a beleza do acaso, uma dupla homenagem: à ovelha Bordaleira, dando-nos a oportunidade de contar a sua história, e simultaneamente àqueles que persistem e a tornam possível – os pastores, fiéis repositórios da alma.