objetos com história
- pintura -

“Praça do Cavalo Negro” e “Fernando Pessoa”, de Velhô
Museu da Cerveja, Lisboa
Nascido a 13 de Agosto de 1948, Velhô tirou o curso de Escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Discreto, dele pouco sabemos, em contraste com a sua obra, dispersa em coleções particulares um pouco por todo o mundo.
É na periferia ocidental da velha Europa que Velhô gosta de se inspirar, na magistralidade de Lisboa, virada ao Tejo. Confessa-se um apaixonado pelo Terreiro do Paço, uma vasta faixa de terreno entre a muralha Fernandina e o Tejo. Só é chamado Terreiro do Paço a partir de 1503, quando D. Manuel I se instala no edifício que ali mandara edificar 5 anos antes, de estilo manuelino e com um torreão abaluartado sobre o rio – o Paço da Ribeira, um palácio real onde os reis portugueses viriam a ter a sua residência oficial até ser destruído pelo terramoto de 1755. Quando as obras de reconstrução daquele espaço cheio de história terminaram em 1775, recebeu o nome oficial de Praça do Comércio, caracterizada pelo modelo urbanístico pombalino de arquitetura sóbria e repetida, sede do poder político ali concentrado. O nome que teve ao longo de mais de 250 anos teimou em perdurar até aos nossos dias, pois muitos lisboetas continuam a chamar Terreiro do Paço à Praça do Comércio. Para Velhô tanto faz o nome que lhe dão, assim possa desfrutar do espaço e nele se inspirar, revelando na sua obra imagens dos seus passeios e divagações artísticas que ali têm lugar.
A monumentalidade do traçado quase quadrado, cerca de 180 por 200 metros, confere à praça – uma das maiores da Europa – uma área de 3 hectares e meio, em 3 alas com 79 arcos pensados numa lógica de quarteirão. Chegou a ser parque de estacionamento até à década de 1990, reclamando o seu estatuto de património que se abre à cidade para exclusivo usufruto de lazer de quem a visita. No centro, a estátua equestre de D. José, Rei de Portugal e dos Algarves e em cujo reinado o país procurou a modernidade que lhe faltava – graças à visão e determinação do ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. Com o triunfal Arco da Rua Augusta por trás e o belo cenário do Tejo pela frente, o Terreiro do Paço, ou Praça do Comércio, conforme lhe queiramos chamar, é tudo isto: uma concentração de História de Portugal, da que passou e da que se escreve todos os dias por quem lá passa, e que Velhô tão bem retrata nestes acrílicos sobre tela “Praça do Cavalo Negro” e “Fernando Pessoa” em exposição no Museu da Cerveja, também ele um habitante da Praça, também ele virado ao Tejo, também ele um espaço onde a História de Portugal se eleva e sobrepõe.