Homem de perfil esguio, rosto alongado, bigode triangular e frequentemente envergando chapéu preto e gabardina, em Fernando Pessoa destacava-se um objeto essencial: os pequenos óculos de lentes grossas e hastes finas, que escondiam profundos olhos castanhos e míopes. Dos seus muitos heterónimos e pseudónimos, apenas Álvaro de Campos preferia usar o monóculo na ordenação caótica, excessiva e emotiva que fazia com as palavras.

“Dá-me os óculos…” – murmurou Fernando Pessoa, semicerrando os olhos enevoados. Foram estas as últimas palavras do poeta, que partiu a 30 de Novembro de 1935, aos 47 anos, de acordo com João Gaspar Simões, primeiro biógrafo e primeiro editor da sua obra e de quem tinha sido amigo e correspondente. Com a sua partida, desapareceram também as outras muitas pessoas que viviam em Pessoa. Mas apenas da realidade física, porque o mais universal dos poetas portugueses permanecerá para sempre, inigualável, como símbolo maior da cultura literária portuguesa.

Os óculos que Fernando Pessoa utilizou para escrever «Mensagem» estão em exposição n’A Brasileira do Chiado para que os seus muitos admiradores os possam contemplar e através deles viajar às primeiras décadas do século XX no embalo da língua portuguesa, a pátria de Pessoa.