objetos com história
- escultura e mobiliário -
Cadeiras renascentistas e mesas sextavadas
A Brasileira do Chiado
Adriano Telles, fundador d’A Brasileira do Chiado, homem conservador nos costumes, mas arrojado do ponto de vista cultural e na visão do negócio, abriu as portas do seu café ao que de mais vanguardista se fazia em Portugal, a 19 de novembro de 1905. Entre outras inovações, lançou a publicação “A Brazileira”, um órgão de propaganda que distribuía gratuitamente pelos clientes e onde divulgava as novidades sobre o café. Na edição de 1 de dezembro de 1905, a publicação refere, a propósito da abertura d’A Brasileira do Chiado, que “o estabelecimento está luxuosamente montado, sendo toda a mobília em estylo Henrique II”.
Em 1908, A Brasileira sofreu a sua primeira remodelação passando a café de mesas e cadeiras com decoração Renascentista. As cadeiras trabalhadas e ornamentadas, que ali se mantêm até hoje, complementam as icónicas mesas sextavadas, de pé adornado em ferro e tampo em mármore. Distintas e elegantes, as mesas foram, desde sempre, motivo de inspiração. Foi sobre elas que Almada Negreiros correu café adentro no ímpeto que o caracterizava, perante a indignação dos outros clientes, e foi também sobre elas que, em 1960, Kubitschek de Oliveira, Presidente do Brasil, se emocionou, ali deixando uma dedicatória.
No cinema português, as cadeiras e as mesas sextavadas d’A Brasileira tiveram lugar de destaque no clássico “Menina da Rádio”, de 1944, fazendo parte da decoração da Confeitaria da Estrela, propriedade do Sr. Cipriano Lopes, personagem interpretada pelo mítico António Silva. Júlio Pomar, o artista plástico e pintor português cuja obra foi nacional e internacionalmente consagrada, imortalizou as mesas sextavadas d’A Brasileira numa ilustração, no passaporte português, e numa intervenção em azulejo na estação de metro do Alto dos Moinhos, em Lisboa, onde Fernando Pessoa surge na companhia dos seus heterónimos. N’A Brasileira, destaca-se o “Retrato dos críticos” de Nikias Skapinakis, inspirado no quadro de Almada Negreiros no qual um grupo de críticos decide a seleção de quadros para a renovação de pinturas de 1971, no café. Em ambos os casos, a mesa sextavada, inconfundivelmente n’A Brasileira, é o elemento central.
Já a estátua em bronze de Fernando Pessoa, da autoria do mestre Lagoa Henriques, que ocupa silenciosamente a esplanada d’A Brasileira desde o centenário do nascimento do poeta, a 13 de junho de 1988, é acompanhada pela icónica mesa e uma cadeira. Todos os dias, desde então, Fernando Pessoa convida os transeuntes a uma inevitável fotografia para uma recordação saudosa, onde o coração haverá sempre de voltar em versos de um poema sextavado.