objetos com história
- escultura e mobiliário -

Andor

Comur, Bacalhoeiros, Lisboa

Na Idade Média os dosséis eram usados como coberturas ornamentais para tronos, altares, liteiras ou camas, simbolizando autoridade. No caso dos tronos, sobre os panejamentos de tecido rico que se estendiam até ao chão eram colocadas as almofadas onde pousariam os pés os grandes dignitários que neles se podiam sentar: faraós, imperadores, reis e bispos.

O baldaquino, ou baldaquim – um precioso tecido oriundo de Bagdad que adornava os dosséis, emprestou o nome à evolução faustosa da peça. Sustentado por colunas de onde saíam varas levadas aos ombros por quatro ou mais homens, começou por ser usado ​​em coroações reais em templos religiosos, tendo sido rapidamente adaptado na decoração de palácios como um luxuoso adorno de camas e sofás, evidenciando a riqueza e a hierarquia de quem neles habitava. Sumptuosamente adornados – a ouro, sempre que possível, e trabalhados em detalhes ricamente elaborados, os baldaquinos eram sinónimo de poder social e religioso.

O andor (do malaiala, “andola”, que significa “liteira”), uma derivação do baldaquino e nem sempre com dossel, é usado há centenas de anos nos cortejos religiosos, sendo os santos padroeiros as figuras principais. Engalanado com vistosos arranjos florais como forma de prestar tributo à imagem sagrada que nele emerge, adornada, o andor acolhe a dimensão espiritual do Homem, representando o esforço em tocar o céu numa aproximação a Deus. Este andor do séc. XVIII, com dossel, descoberto numa capela particular na região do Alentejo, coloca agora em destaque a soberana do mar, a sardinha, no seu merecido lingote. É ela a Rainha que ostenta a coroa e se senta no trono, é ela o ouro, os palácios, os castelos e a corte, é ela a monarquia, o reino e o império inteiro, tudo em um, sem precisar de adornos ou floreados.