objetos com história
- escultura e mobiliário -

Cadeira de Barbeiro
Silva e Feijóo, Lisboa
Cortar o cabelo, afeitar a barba e revirar o bigode é uma arte que já tem barbas. Pelo menos desde meados do séc. XIX, pouco tempo depois da Guerra Civil Americana, quando as cadeiras de barbearia ganharam estatuto de trono para atender os mais exigentes cavalheiros que seguiam os ditos da moda de então, e para quem uma barba farta e um bigode faustoso conferiam uma imagem de maturidade e autoridade.
Por entre lâminas e navalhas, o ofício de barbeiro acumulava com uma outra função, herança dos tempos em que era simultaneamente odontólogo e como tal, até 1870, também se arrancavam dentes nas cadeiras de barbeiro. Este objeto multifacetado tinha o condão de ser um confessionário informal; perante o confidente em que se tornava o barbeiro enquanto realizava a sua obra-prima, muitos clientes deixavam escapar alguns segredos pessoais, varridos com as aparas de cabelo para não mais se encontrarem.
A cadeira de barbeiro que a montra da Silva & Feijóo ostenta é um garante de uma viagem ao passado, não fosse esta loja uma cápsula do tempo também. De fabrico de M. Bartholo Porto e com patente número 8504, este exemplar da arte nova em ferro fundido e madeira de carvalho do séc. XIX, com encosto de cabeça e costas e assento em couro lavrados com pregaria, testemunhou muitas histórias e confidências numa antiga barbearia do Campo das Cebolas, em Lisboa. Tesouras a cortar, navalhas a escanhoar e toalhas quentes molhadas para acalmar o rosto dos clientes após o corte foram ações repetidas como um ritual coreografado. Hoje, não se fazem mais barbeiros nem barbearias como os de antigamente. Nem clientes.